UNIVERSIDADE ABERTA - MESTRADO EM SUPERVISÃO PEDAGÓGIGA

Unidade Curricular: Relações Interpessoais-AICE (2011)

Ana Cristina Louro - Berta Bemhaja - Cidália Painço - Fernanda Rosado - Helena Inês - Maria José Martins

O discurso opiniático dos media

                                                                 ... sobre o conflito e o bullying






A violência nas nossas escolas não é um fenómeno recente, tendo-se todavia acentuado o interesse dos investigadores e a curiosidade da opinião pública quando os media começaram a divulgar notícias sustentadas em casos reais, acompanhadas de imagens perturbantes. O assunto já não podia ser ignorado.
O bullying é habitualmente apresentado pelos diversos órgãos de comunicação social de forma sensacionalista. Prevalece, na Internet e na televisão, a violência que perpassa das imagens e que fica na memória (e garantem audiências). As imagens ficam de facto registadas mas o assunto não é tratado numa perspectiva construtiva e educativa, sendo a mediatização e banalização entendidas, pelos especialistas, como desfavoráveis à compreensão do fenómeno.
Ana Vasconcelos, pedopsiquiatra, defende aliás que as imagens de violência não deviam ser exibidas, devendo ser substituídas pelas que propõem uma intervenção adequada. Com efeito, relata-se o que aconteceu sem contextualizar rigorosamente a situação, desconhecendo-se frequentemente as medidas de prevenção e mediação tomadas pelas escolas, assim como as repercussões imediatas e a longo prazo do incidente sobre a comunidade escolar e os próprios protagonistas (as vítimas, fragilizadas, tentam por vezes o suicídio).
Abundam na Internet notícias e vídeos centrados nesta temática que, para além de não promoverem a compreensão e reflexão sobre o fenómeno, potenciam o aumento da sua prática. Os media representam agentes privilegiados na promoção de comportamentos e de relações interpessoais (in)adequados. Participam no processo de educação para a cidadania, de intervenção na sociedade porque formam, informando. Nesta linha, poderão influenciar as tomadas de decisões, modelando comportamentos. Daí, a necessidade de repensar as estratégias discursivas, na medida em que as mesmas estão indiscutivelmente implicadas enquanto potenciadoras de bons ou maus modelos. Os exemplos apresentados podem, no entanto, não corresponder a um aumento da violência, mas antes a uma maior focalização da acuidade social relativamente a certos tipos de violência, como o bullying.
Em território nacional, os casos de bullying são pontuais. Contudo, o Governo, com vista a prevenir e a dissuadir, aprovou uma proposta que formaliza o crime de violência escolar. O JN de 28-10-2010 adianta ainda que, segundo a Ministra da Educação, o crime poderá ser punido com pena de prisão.



Violência e bullying na escola em noticia...


Violência Escolar: PGR quer definir bullying como crime

A Procuradoria Geral da República quer tipificar crime de bullying no contexto da violência escolar e aumentar a denúncia obrigatória por parte dos responsáveis escolares.
A Procuradoria Geral da República (PGR) indicou segunda-feira à Agência Lusa que foi entregue, na passada sexta-feira, um estudo sobre "vários tipos de violência escolar e sua punição" aos Ministérios da Educação e da Justiça.
De acordo com a PGR, apesar de "grande parte da jurisprudência" já considerar os ilícitos ligados à "violência escolar" como crimes públicos, "interessa abranger na 'violência escolar' ilícitos que até agora dificilmente se podem considerar tipificados, tal como é o caso do school bullying".
in http://jpn.icicom.up.pt/2010/03/29/violencia_escolar_pgr_quer_definir_bullying_como_crime_.html

 

Educação: Escolas fazem seguros para casos de "bullying"

Depois de um colégio espanhol ter sido obrigado a pagar 40 mil euros à família de um aluno vítima de "bullying", as escolas portuguesas estão a prevenir-se para indemnizações que poderão ser pagas em processos abertos por violência escolar.
Um colégio espanhol foi obrigado, por um tribunal de primeira instância, a pagar 40 mil euros de indemnização à família de um antigo aluno, vítima de violência e coação pelos colegas, ou seja, de "bullying".
Educação: Escolas fazem seguros para casos de "bullying"Adalmiro da Fonseca, presidente da Associação Nacional de Dirigentes de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), explicou, em declarações ao DN, que, actualmente, as escolas "já são obrigadas a comunicar de imediato qualquer caso de bullying, ou outro acto de indisciplina". E mesmo que a lei não contemple sanções específicas para as escolas, estas podem ser chamadas a "responder civil e até criminalmente" pelo que acontece no seu recinto.
Assim, as escolas já estão a fazer seguros para prevenir indemnizações pagas por processos abertos devido a violência escolar. Segundo o DN, a preocupação dos directores cresceu com o novo regime de autonomia e gestão das escolas. O decreto-lei atribui aos dirigentes máximos "responsabilidade individual" pelo que ocorre nos estabelecimentos escolares.
Apesar dos dados dos últimos anos lectivos terem apontado para uma certa diminuição das ocorrências graves nas escolas, Adalmiro Fonseca realça a importância de optar pelo seguro, até porque "um erro na classificação de um professor num concurso para a escola, um número que não bate certo nas aquisições feitas através da central de compras do Estado, podem resultar [também] em processo".


 

Educação: Alunos vão poder ser suspensos após agressão

Escolas vão passar a ter mais poder na suspensão de alunos agressores, como medida de combate ao bullying.
A Ministra da Educação, Isabel Alçada, anunciou hoje, quinta-feira, que vai aprovar um diploma que confere mais poder aos directores das escolas em casos de agressão. Os responsáveis pelos estabelecimentos de ensino vão então poder suspender os agressores imediatamente após a ocorrência da agressão.
O anúncio à imprensa foi feito em Lisboa, no final do Conselho de Ministros, onde Isabel Alçada, citada pela RTP, defendeu a ideia de que a violência no meio escolar tem vindo a diminuir mas que "cada caso de violência tem de ser tomada como motivo de preocupação".
Esta é uma medida destinada a atenuar o número de fenómenos de bullying. "Queremos resolver rapidamente situações de ameaça, conflito ou agressão, sem prejuízo de medidas disciplinares que se instaurem no momento em que há este tipo de situações nas escolas", declarou a ministra.

 

Bullying: Tratamento psicológico "não pode demitir os pais do seu papel"

Pedopsiquiatra Ana Vasconcelos considera negativa a mediatização dos casos de bullying e aconselha os pais a serem o primeiro apoio dos filhos.
Bullying: Tratamento psicológico "não pode demitir os pais do seu papel"Apesar de frequentemente ser convidada pela comunicação social para comentar casos de violência nas escolas a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos critica a emissão de imagens violentas. A especialista aconselha os pais a mostrarem aos filhos que os podem ajudar a encontrar solução.
Que consequências traz para a discussão do tema a mediatização de casos como o da escola Carolina Micaelis?
A mediatização pode trazer vantagens que se encontram no facto de se trazer o tema para a discussão, mas não se pode mediatizar generalizando em casos que são específicos. Cada caso é um caso.
O tratamento dado pela comunicação é errado?
Situações como o da escola do Norte não deviam passar na televisão. Devia explicar-se o que os pais devem fazer quando eles querem levar o telemóvel para a escola, mas não é permitido. Devia haver diálogo construtivo que indicasse modos de agir.
Que riscos acarreta uma mediatização generalizada?
Não podemos tornar ficção, situações pontuais com características muito próprias, mesmo que elas estejam na ponta do icebergue, onde há muitas outras situações aparentemente idênticas. Criámos ideias erradas.
Como devem ser tratados os casos que chegam ao meio público?
Em pedopsiquiatria colocamos as palavras dos humanos nos actos que não percebemos para ver as intenções através da capacidade simbólica. Temos de perceber as intenções para entender o acto. As pessoas ficam-se pelas consequências e não pelos motivos.
O que podem os pais fazer para perceber melhor estas situações?
É preciso analisar os casos não como problemas humanos, mas como casos específicos. No caso da escola do Norte tratava-se de um problema relacionado com a moda das crianças usarem telemóvel e de se verificar uma perda de autoridade dos professores.
O bullying é um fenómeno dos nossos tempos?
O que acontece é que os miúdos entre dez e 11 anos podem espicaçar um colega que parece muito fraco, como se a fragilidade do colega pusesse a nu as suas fragilidades. Uma coisa é espicaçar, outra é violar a total capacidade de aguentar a violência dos outros. É o querer ser diferente.
Como podem os pais perceber que o filho é vítima de bullying?
Uma das características do bullying é a existência de chantagem. Em geral, a criança não conta logo no início, mas pode revelar aos pais ou ao irmão mais velho. A criança não quer ir à escola e pode apresentar sintomas físicos para os quais os médicos não encontram causa.
Como deve agir a família para solucionar o problema?
Depende dos recursos, mas primeiro deve falar com o médico que serve de referência à família (clínico geral ou pediatra). São normas do senso comum e do bom senso e, muitas vezes, a própria criança tem fragilidades que justificam um acompanhamento.
A solução passa pelo acompanhamento médico?
Não deve ser chapa zero. Os pais são competentes e sabem melhor do que ninguém o que fazer. A primeira coisa a fazer é aconselhar-se com o médico de referência. É essencial que nas situações em que a saúde mental está em causa não se "psiquiatrize" em demasia.
Pode causar o efeito oposto?
Dar-lhes logo uma pessoa com poder médico ou psicológico pode agravar as coisas. As atitudes que derivam da envolvência da pedopsiquiatria e psicologia não podem demitir os pais do seu papel, a parentificação. A criança tem de sentir uma afiliação normal, para que não veja os pais como incapazes.