UNIVERSIDADE ABERTA - MESTRADO EM SUPERVISÃO PEDAGÓGIGA

Unidade Curricular: Relações Interpessoais-AICE (2011)

Ana Cristina Louro - Berta Bemhaja - Cidália Painço - Fernanda Rosado - Helena Inês - Maria José Martins

Análise de uma situação de bullying


  Depois de ...




BULLYING NUMA ESCOLA DE MIRANDELA


A mãe de uma criança de 10 anos de Mirandela queixou-se à Lusa que o filho está a ser vítima de bullying motivo pelo qual a criança se recusa a ir à escola e está a ser medicada e acompanhada por um psicólogo.
 



Analisando a notícia publicada pela Agência Lusa podemos verificar que realmente se tratou de um caso de violência escolar com características de bullying, uma vez que os atos praticados constituíram uma conduta agressiva e persistente no tempo, “situação que se arrasta desde janeiro, no início do segundo período escolar“, exercidos por um aluno ou grupo de alunos, “alguns casos de agressões dos mais velhos (…) aos miúdos", que levaram a um isolamento e exclusão social de um outro aluno, “chega ao portão da escola e parece que muda, é outra pessoa", através de insultos, ameaças, intimidação psicológica e agressões físicas com tendência para aumentar em intensidade e frequência de agressões, “com medo de que lhe voltassem a bater" e “(…) a polícia tomou conta da ocorrência no hospital como ‘agressão’”.

Face a esta situação de conflito, evidenciada por vários acontecimentos (recusa do aluno em frequentar a escola, falta de dinheiro, ida ao hospital), a Escola e a família deveriam ter tido uma intervenção mais ativa e cooperativa com vista à sua resolução: a mãe deveria ter insistido junto dos agentes educativos e do seu filho de forma a saber exatamente o que se passava e a Escola deveria ter utlizado estratégias, como por exemplo, a mediação de pares, para evitar os conflitos ou, pelo menos, trabalhá-los enquanto oportunidade e solucioná-los ou minimizá-los sob uma perspetiva construtivista. De facto, a situação poderia ter sido resolvida se, face às palavras da mãe e aos sinais dados pela ocorrência de vários acontecimentos, a Escola tivesse implementado um processo de mediação de pares pois esta permitiria, em primeiro lugar, que o aluno sentisse que tinha alguém em quem confiar e contar sobre as agressões verbais e físicas de que tinha sido alvo, desenvolvendo novas formas de cooperação, de confiança e de solidariedade e evitando situações como a relatada pela mãe de que “(…) ‘com medo de que lhe voltassem a bater’, o filho não me quis contar o que se passava (…)”. Em segundo lugar, poderia ter sido orientado de forma a evitar e/ou não provocar os agressores, uma vez que o aluno mediador teria como função a responsabilidade de o guiar por caminhos pautados pela assertividade de comportamentos socialmente aceites e recomendados, demovendo-o da aposta na promoção do conflito. Em terceiro lugar, o mediador, caso visse que não conseguia resolver a situação poderia pedir auxílio aos adultos (professores, psicólogo escolar, Diretor da Escola…). E em quarto lugar, o aluno mediador desenvolveria competências que permitiriam o seu desenvolvimento psicossocial, na medida em que deixaria só de pensar em si e prestaria mais atenção e ajuda aos outros, e o aluno mediado ao conviver com os seus pares, desenvolveria competências inter-relacionais que lhe permitiriam gerir as divergências que podem surgir nas relações simétricas. De facto, quando a Escola implementa estratégias de resolução de situações de bullying, por meio de programas de mediação entre pares (aluno-aluno) vai dotar os alunos de capacidade de resiliência, promovendo relações interpessoais, havendo uma proteção futura para situações idênticas, levando os alunos a resolver os seus próprios problemas, de forma pacífica, traduzindo, não só uma sensação de poder e de capacidade de o aluno saber tomar as decisões mais corretas, como também de autoconfiança nas suas capacidades.

Nesta perspetiva, a Escola deveria ter trabalhado o conceito de bullying, nomeadamente através da mediação de pares, uma vez que não só teria permitido a sua interiorização pelos alunos mediadores, como também a expansão do conceito pela comunidade educativa, evitando que, face a situações conflituosas graves, não se tomassem medidas concretas por desconhecimento do próprio conceito, como aconteceu com as autoridades aquando da comparência do aluno às urgências do hospital, afirmando com naturalidade que "as agressões entre miúdos nas escolas são frequentes e a polícia tem registado várias", assim como uma identificação mais rápida dessas situações, uma vez que “(…) esta forma violência, de agressão física e/ou psicológica continuada, é exercida de maneira camuflada e os alunos que a sofrem não se queixam”.


Concluindo, a inexistência no nosso Sistema Educativo de um verdadeiro processo de mediação de conflitos é um dos principais obstáculos à sua resolução, uma vez que o desenvolvimento de competências nos alunos, no âmbito da mediação de conflitos, permitirá uma maior rapidez na sua solução uma vez que os alunos mediadores se encontram no mesmo ‘cenário’, apercebendo-se rapidamente da existência de conflitos entre colegas e, por outro lado, poderão evitá-los, levando os colegas ao diálogo, negociação e entendimento. Assim, é urgente, face à massificação escolar e, consequente diversidade do público escolar, que as escolas adotem programas de mediação de pares, treinando alunos como intervenientes neutros na ajuda de outros alunos com o objetivo de resolver as questões conflituosas interpessoais (Jones & Brinkman (1994, cit. em Costa & Matos, 2006).