UNIVERSIDADE ABERTA - MESTRADO EM SUPERVISÃO PEDAGÓGIGA

Unidade Curricular: Relações Interpessoais-AICE (2011)

Ana Cristina Louro - Berta Bemhaja - Cidália Painço - Fernanda Rosado - Helena Inês - Maria José Martins

A mediação de pares

                                      ... uma proposta de intervenção no conflito



A mediação de pares corresponde a uma estratégia de resolução de conflitos, centrada nas relações interpessoais e nos indivíduos. (Menezes, 2003 citado em Costa e Matos, 2007). Nesta abordagem, os participantes, mediante a ajuda de uma pessoa imparcial e neutra, - o mediador- colocam as questões em litígio com o objectivo de considerar alternativas e chegar a um acordo que seja mutuamente aceite. Utilizando técnicas semelhantes à conciliação, a mediação procura respeitar as perspectivas de ambas as partes. As partes não se limitam a cumprir as instruções do mediador, assumindo um papel activo na tomada de decisão, que só a elas compete, embora com a orientação de um terceiro elemento: o mediador que auxilia na criação, escolha e avaliação das diferentes possibilidades de solução. A escola, sistema complexo, centra o papel de mediador em alunos. A função de mediador tem como objectivos gerar acordos e desenvolver estratégias para lidar com problemas, promovendo competências sociais para gerir, no futuro, situações semelhantes. Podemos afirmar que a mediação de pares consiste numa acção desenvolvida por alunos treinados enquanto “interventores neutros na ajuda a outros alunos para a resolução de disputas interpessoais” (Jones e Brinkman, 1994, cit. Costa e Matos, 2007: 77), constituindo um importante exercício de cidadania, mas também de crescimento pessoal, este último associado à promoção da auto-estima e responsabilização que é transferida para os alunos, ao lhes ser reconhecida competência para tentar ajudar os colegas na resolução de conflitos.
A mediação de pares constitui pois uma estratégia de diálogo e de encontro interpessoal, baseada em princípios, técnicas e saberes comunicacionais e da negociação cooperativa entre os protagonistas do conflito. Esta estratégia beneficia mediadores e mediados: os primeiros, na medida em que se colocam no lugar dos outros e os segundos, no âmbito do desenvolvimento de competências sociais e interpessoais. A mediação pode induzir uma reorientação das relações sociais, construindo novas formas de cooperação, de confiança e de solidariedade. Induz atitudes de tolerância, responsabilidade e iniciativa individual que podem contribuir para uma nova ordem social.
Princípios de actuação:
Voluntariedade - a intervenção do mediador deve ser aceite pelas partes em conflito, de forma livre e voluntária, o que implica que as partes em conflito se possam retirar em qualquer momento e sem consequências.
Confidencialidade - as partes deverão manter as sessões em segredo. Esta garantia torna as partes mais disponíveis para se manifestarem acerca do conflito, para exprimir honestamente a forma como o encaram e para propor formas de resolução.
Imparcialidade/ neutralidade e independência - o mediador deve manter-se independente, tanto das partes como de qualquer outra instância. Deve evitar as estratégias de sedução, manipulação ou cumplicidade de uma ou ambas as partes, mantendo quanto possível a sua identidade e evitando tomar partido.

O quadro teórico de referência para a formação nos procedimentos a levar a cabo aquando da mediação, é o dos princípios da pedagogia pacífica ou da educação para a paz e a convivência escolar, nomeadamente:
- uma concepção positiva do conflito. O conflito deve ser entendido não como algo negativo ou sinónimo de violência, mas como algo inerente aos seres humanos e às suas formas de vida social e que, dependendo da forma como for gerido, poderá vir a ser um factor construtivo e benéfico para todas as partes;
- o uso do diálogo como alternativa a possíveis respostas menos construtivas como a agressão, violência, fuga ou submissão;
- uma aposta na potenciação de contextos cooperativos nas relações interpessoais. Eu ganho/tu ganhas, face a posições antagónicas do tipo: “Eu ganho/ tu perdes”, de modo a ficar claro que a consecução dos meus próprios interesses não implica que os outros não possam alcançar os seus;
- o desenvolvimento de competências de auto-regulação e autocontrolo, enquanto elemento chave para potenciar, nos indivíduos, a autonomia na tomada de decisões adequadas ao meio social em que vivem, o que contribui para uma melhor integração e para o desenvolvimento da sua auto-estima;
- a prática da participação democrática, experimentando a importância das suas opiniões, sentimentos, desejos e necessidades, tanto próprias como alheias, e contribuir para a erradicação de situações injustas ou desagradáveis;
- a responsabilidade da resolução dum conflito recai sobre as partes directamente implicadas nele;
- o desenvolvimento de atitudes de abertura, compreensão, respeito e empatia que implica um compromisso de atenção para com o outro;
- o protagonismo das partes na resolução dos seus conflitos, pois quando as partes envolvidas no conflito são capazes de identificar as suas necessidades e interesses face ao outro e de colaborar em conjunto na busca de soluções satisfatórias para ambos os lados, há mais probabilidades de a saída do conflito ser assumida e desenvolvida duma forma assumida por ambas as partes.
Podemos apontar com factores constituintes de um processo de resolução de conflitos:
1. Separar as pessoas do problema, percebendo que cada conflito implica diferentes pontos de vista.
2. Reconhecer as diferentes emoções envolvidas no processo.
3. Aceitar que o conflito corresponde um problema de comunicação.
4. Aprender a privilegiar o foco nos interesses e não nas posições, atendendo a que os interesses são frequentemente escondidos, podendo não ser explicitados.
5. Criar oportunidades para encontrar opções ou alternativas distintas, encontrando soluções potenciais para os conflitos sem julgamentos precipitados. Reflectir sobre os problemas é parte da sua resolução.
Este tipo de estratégia permite aos jovens promover e preservar as relações interpessoais, maximizando o desenvolvimento psicossocial, na medida em que o conflito sendo inevitável deve ser gerido e resolvido. Trata-se, sem dúvida, de uma aprendizagem para a vida.